quinta-feira, 2 de maio de 2013

Diálogo parte I

Maria chamou Gabrielle para conversar. As duas deveriam parar com o atentado de homicídio -do jeito que estava, uma iria morrer.

As duas pararam e começaram a lembrar de antes, de quando eram uma só e lembraram de como idealizavam o amor.

Elas -que no caso era ela- idealizavam um amor assim: simples e leve.
Maria Gabrielle nunca pensou em príncipes de contos de fadas, nem nada muito glamouroso. Ela pensava em dar o seu coração a um cara que gostasse de bichos e que quisesse viver no campo.
Vou assumir a identidade, já que falar na terceira pessoa é chato.

Eu sempre quis um amor que me tomasse o fôlego num só golpe. Que deixasse as minhas pernas bambas. Que me revirasse, me deixasse pelo avesso. Que me desmontasse e depois, montasse de novo. Que depois de uma briga, quando eu tivesse indo embora, puxasse a minha mão e me desse um beijo, mesmo que depois me deixasse ir. Que deixasse as borboletas do meu estômago loucas, cegas, sem saber para onde irem!

Aquele amor que dá um nó na garganta; que dá vontade de gritar... aquele grito que ia fazer a cabeça doer, que ia tirar o ar. O grito engasgado. O grito que nas entrelinhas traria súplicas de amor. Que faria o resto do mundo me chamar de louca. Pouco me importava.

Aquele amor que deitasse comigo, me abrigasse em seu peito -como num encaixe perfeito- e ficasse ali, alisando o meu cabelo. Não precisaria dizer nada, sabe? Que só ficasse ali. Como num gesto de "ei, eu estou aqui por você, por nós dois. E não preciso mais de nada". Porque é a sensação que eu tenho.

Eu me pergunto se finalmente o encontrei. Mas, aí é que está...


Maria Gabrielle virou Maria e Gabrielle depois que o tempo foi passando. E as duas não se suportam.

Eu só preciso de alguém que tome conta de mim. Que não me faça sentir frágil ou menor que ninguém.
Às vezes eu me sinto tão pequena, sabe? - disse Maria.

Eu não tenho um corpo que faça as pessoas pensarem "NOSSA, U-A-U" e fico triste em saber que a maioria dos homens sentem atração só em ver uma gostosa. Mesmo estando namorando. -disseram as duas.

Ó, tudo isso é tão complicado. Às vezes eu queria pular logo fora do barco. -disse Gabrielle

Então, as duas formaram um diálogo.

- O que você quer, Maria? Tô cansada de você. Dessa sua ingenuidade.
- Eu só queria que tudo ficasse bem. Que eu conseguisse ver isso como uma coisa normal.
- Coisa normal? Maria... passamos por isso, você lembra? Fazíamos o segundo ano. Nos sentíamos atraída pelo cara de nome estranho. Mas aí é que está... o meu -ou melhor- o nosso namoro não estava bem. Você lembra. Estava desgastado demais.
- Tava tudo tão bem, sabe, Gabi? (e Maria com essa incrível mania de tornar íntimo todo mundo que dá-lhe o mínimo de atenção). Antes, estávamos falando sobre a dimensão do nosso amor. O que faríamos se cada um soubesse o tamanho do amor que um sente pelo outro...
- Sua boba. Temos opiniões diferentes, mas lembre-se que eu continuo com você. E sei de tudo o que acontece.
- Sim, mas, deixe-me continuar. E ele disse "se tu soubesse o quanto que eu te amo, tu vinha morar comigo!" E eu fiquei tão feliz. Tão tão! Ele falou muitas coisas! Eu disse que não queria esquecer. E ele disse pra eu anotar. Mas, olha... eu acho que eu bloqueei, sabe? Lembro apenas de algumas partes.
- Acho que devemos entrar num consenso. Pela sanidade da Maria Gabrielle.
- Sim... então, o que você sugere?
- É que dói tanto, Maria. É egoísmo meu me sentir mal por isso? Sabe, ontem chegou numa hora que se fosse possível esquecê-lo, eu o esqueceria. Que nem em Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Mas, a vontade logo passou. Sei lá, a nossa história, apesar de tudo, é tão bonita. Olha só, já estou me derretendo! Quem faz isso é você! Fica aí, toda breguinha e cafona quando está amando. E estou do mesmo jeito, blé.
- Você às vezes é tão amarga. Pode, por um minuto lembrar que somos uma só, apesar de tudo?
- Voltando... Doeu tanto, ainda dói. É que eu tinha acabado de, finalmente, me livrar de um fantasma, sabe? Tava tudo bem. Nem lembrava mais. Estava feliz! Sentia que podia curtir 100% o nosso amor sem me preocupar com nada! Tava tudo tão bem!
- Eu sei... aí veio isso agora. Eu também fico muito mal.
- ... Sinto como se sempre tivesse algo. Como se toda as vezes que eu ficar bem por algo, outra coisa vai acontecer. Sinto como se todas as vezes que eu for me livrar de um fantasma, outro vai aparecer. E a vontade que eu tenho, Maria... é de pular do barco. Sinto que estou lutando contra a correnteza. Sei que você sente muita vontade de continuar navegando. Eu também sinto, mas eu tenho medo. E dá vontade de pular do barco enquanto estamos na beirada.
- Beirada? Nhenhem. A bichinha. Desculpe a ironia, Gabi. Mas você mereceu. Estamos pra lá de longe! Tem muita coisa envolvida, menina!
- A bichinha.. a bichinha de você. Eu peguei um bote, posso muito bem pular e me salvar.
- Mas... e eu?
- Você? Quem mandou ser besta e só pensar no amor? Ah... Maria, temos que ter sempre uma carta na manga. Você foi besta. Está aí, toda envolvida. Toda entregue a um amor que está entregue a outras oportunidades.
- BASTA. Você não sabe o que está falando! Ele disse que atração é diferente de estar apaixonado...
- Preciso falar de novo do nosso segundo ano? Você lembra como é sentir-se atraída por outra pessoa que não seja o seu namorado?
- Lembro. E você não deveria ter me lembrando...
- Pois pronto! Não seja besta. Sentir-se atraído por alguém, que não seja seu namorada/ado é uma linha tênue para estar apaixonado.
- É que eu queria tanto que ele só sentisse atração por nós duas.
- Eu também, sabe? Mas não é assim. Não é, não é! Você lembra como ele ressaltou o quão linda ela é? Ele nunca falou de nós duas assim.
- Você é uma víbora, Gabrielle.
- Estou mentindo?

E Maria se calou.

8 comentários:

  1. Como é complicado o amor, não?

    Aceite meus ridículos desejos de óptima note, rrss

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  2. Que Gabi danada. Se eu fosse Maria largava de dar um resposta pra ela :)

    Meu amor, a vida é mais redonda e menos linear do que parece.. Te cuida!
    Te gosto.. :*

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    1. Nho, gosto tanto de tu também, florzinha! :)
      Tá tudo em ordem. As duas fizeram as pazes.
      Aliás, os três! ;)

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  3. ei Maria, quem é que conta a história? não importa, gostei da narrativa, a maneira como fez a mudança de tempos.

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    1. Olá, anônimo. Maria e Gabrielle são "duas" partes de mim. Eu conto a história.
      E, obrigada. :)

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  4. hummmm....
    a ingenua e a sabidona rsss
    homem gosta de mulher gostosa e gata, não tem que ser mulherão tipo monumento, quer dizer, alta, esbelta (gorda) e loira rssss

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    1. Eu tive que reler umas 5 vezes pra entender... e espero que eu tenha entendido errado.
      Se você gosta de esteriótipos, merecer ser estereotipado. Mas, só merece mesmo. Não espero que tu seja não. Porque mulher -pelo menos a maioria que eu conheço- gosta de homem que tenha algo na cabeça.

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